Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012

Nicolau Santos, na sua habitual coluna do semanário "Expresso", desnudava a alma, com estes termos: "Sr primeiro-ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes". Também eu, senhor Primeiro-Ministro. Só me apetece rugir!...

O que o Senhor fez, foi um Roubo! Um Roubo descarado à classe média, no alto da sua impunidade política! Por isso, um duplo roubo: pelo crime em si e pela indecorosa impunidade de que se revestiu. E, ainda pior: Vossa Excelência matou o País!

Invoca Sua Sumidade, que as medidas são suas, mas o déficite é do Sócrates! Só os tolos caem na esparrela desse argumento. O déficite já vem do tempo de Cavaco Silva, quando, como bom aluno que foi, nos anos 80, a mando dos donos da Europa, decidiu, a troco de 700 milhões de contos anuais, acabar com as Pescas, a Agricultura e a Industria. Farisaicamente, Bruxelas pagava então, aos pescadores para não pescarem,  e aos agricultores para não cultivarem. O resultado, foi uma total dependência alimentar, uma decadência industrial e investimentos faraónicos no cimento e no alcatrão. Bens não transaccionáveis, que significaram o êxodo rural para o litoral, corrupção larvar e uma classe de novos muitíssimo-ricos. Toda esta tragédia, que mergulhou um País numa espiral deficitária, acabou, fragorosamente, com Sócrates. O déficite é de toda esta gente, que hoje vive gozando as delícias das suas malfeitorias. E você é o herdeiro e o filho predilecto de todos estes que você, agora, hipocritamente, quer pôr no banco dos réus?

Mas o Senhor também é responsável por esta crise. Tem as suas asas crivadas pelo chumbo da sua própria espingarda. Porque deitou abaixo o PEC4, de má memória, dando asas aos abutres financeiros para inflacionarem a dívida para valores insuportáveis e porque invocou como motivo para tal chumbo, o carácter excessivo dessas medidas. Prometeu, entretanto, não subir os impostos. Depois, já no poder, anunciou como excepcional, o corte no subsídio de Natal. Agora, isto! Ou seja, de mentira em mentira, até a este colossal embuste, que é o Orçamento Geral do Estado.

Diz Vossa Eminência que não tinha outra saída. Ou seja, todas as soluções passam pelo ataque ao Trabalho e pela defesa do Capital Financeiro. Outro embuste. Já se sabia no que resultaram estas mesmas medidas na Grécia: no desemprego, na recessão e num déficite ainda maior. Pois o senhor, incauto e ignorante, não se importou de importar tão assassina cartilha. Sem Economia, não há Finanças, deveria saber o Senhor. Com ainda menos Economia (a recessão atingirá valores perto do 5% em 2012), com muito mais falências e com o desemprego a atingir o colossal valor de 20%, onde vai Sua Sabedoria buscar receitas para corrigir o déficite? Com a banca descapitalizada (para onde foram os biliões do BPN?), como traçará linhas de crédito para as pequenas e médias empresas, responsáveis por 90% do desemprego?

O Senhor burlou-nos e espoliou-nos. Teve a admirável coragem de sacar aos indefesos dos trabalhadores, com a esfarrapada desculpa de não ter outra hipótese. E há tantas! Dou-lhe um exemplo: o Metro do Porto. Tem um prejuízo de 3.500 milhões de euros, é todo à superfície e tem uma oferta 400 vezes!!! superior à procura. Tudo alinhavado à medida de uns tantos autarcas, embandeirados por Valentim Loureiro. Outro exemplo: as parcerias publico-privadas, grande sugadouro das finanças públicas. Outro exemplo: Dizem os estudos que, se V.Exa cortasse na mesma percentagem, os rendimentos das 10 maiores fortunas de Portugal, ficaríamos aliviadinhos de todo, desta canga deficitária. Até porque foram elas, as grandes beneficiárias desta orgia grega que nos tramou. Estaria horas, a desfiar exemplos e Você não gastou um minuto em pensar em deslocar-se a Bruxelas, para dilatar no tempo, as gravosas medidas que anunciou, para Salvar Portugal!

Diz Boaventura de Sousa Santos que o Senhor Primeiro-Ministro é um homem sem experiência, sem ideias e sem substrato académico para tais andanças. Concordo! Como não sabe, pretende ser um bom aluno dos mandantes da Europa, esperando deles, compreensão e consideração. Genuina ingenuidade! Com tudo isto, passou de bom aluno, para lacaio da senhora Merkel e do senhor Sarkhozy, quando precisávamos, não de um bom aluno, mas de um Mestre, de um Líder, com uma Ideia e um Projecto para Portugal. O Senhor, ao desistir da Economia, desistiu de Portugal! Foi o coveiro da nossa independência. Hoje, é, apenas, o Gauleiter de Berlim.

Demita-se, senhor primeiro-ministro, antes que seja o Povo a demiti-lo.



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 15:51 | link do post | comentar | ver comentários (1) | partilhar | favorito

No n.º 15 da revista UPORTOALUMNI, Revista dos Antigos Alunos da Universidade do Porto, inclui uma interessante entrevista do bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira.

Aborda, com igual abertura de espírito e frontalidade, temas como a situação social e política do país, a crise da Europa e o papel da Igreja.
Pela sua atualidade e pelo valor que estas palavras assumem, vindo de quem vêm,  transcrevo, aqui, o início da entrevista.
 
Em entrevista, D. Januário disse que “ser patriótico não é estar de joelhos e aceitar tudo o que nos dizem”. À luz destas declarações, que avaliação faz da recente greve geral?
Foi um exercício democrático. Mas ao mesmo tempo notava-se, quer por parte do Governo, quer por parte de outros setores da sociedade portuguesa, [a tentativa de passar a ideia de] que era uma atitude irresponsável. No sentido em que, se se perde mais um conjunto de horas, a economia do país fica mais debilitada.
Não concorda com esta visão?
Não concordo, não. Nota-se que essas pessoas não têm o realismo de escutar os outros e as notas que algumas instituições, que foram as organizadoras da greve, publicaram. A saber, foi dito que a greve, entendida como último recurso da comunidade trabalhadora, deverá significar que a situação do país é perfeitamente intranquilizadora. Além de intranquila, é intranquilizadora.
Acha que o povo português deve vir para a rua manifestar a sua discordância em relação às políticas de austeridade?
Com certeza. Fico sempre admirado com o espírito de disciplina e de civismo [do povo português]. Com certeza que há veemência, com certeza que há vozes demasiadamente inflamadas, com certeza que há ditos que ferem qualquer dicionário... Mas o que nós não assistimos foi à arruaça, à violência e à injustiça. Apesar dos comentários infelizes do perigo de tumultos e de anarquias...
Não teme um agravamento da conflitualidade social, porventura com os níveis de violência e de desobediência civil que se verificam na Grécia?
Poderá haver, de facto, esse problema. Se este clima continuar, não excluo uma situação semelhante à da Grécia. Há aqui dois problemas: distribuir – usando o adjetivo que Cavaco Silva usou – com equidade e justiça social os frutos do trabalho; e tratar as pessoas e as instituiçõescomo sujeitos, e não como objetos. Começo a ficar um bocado inquieto quando se diz: “fulano foi patriota”. Porquê? Porque defendeu os cortes no Orçamento. Esse é que é o patriota? Aquele que fabrica pobres, miseráveis e oprimidos é que tem amor à pátria? Eu acho que o patriota é o solidário. E a solidariedade começa pelos mais aflitos e pelos mais doentes.
Considera, portanto, que não está a haver equidade na distribuição dos sacrifícios?
Eu acho que não! As zonas mais vulneráveis, mais abandonadas e mais debilitadas económica e socialmente não têm sido zeladas com uma proporcionalidade monetária justa e compensadora. Uma malga de sopa mata a fome. Mas uma malga de sopa significa, tantas vezes, o mais profundo 
desrespeito pelo ser humano: “Toma lá!”. É o olhar de cima. E, como diz o García Márquez, “só se pode olhar de cima como se olha para uma criança: para a ajudar a crescer”. Aí é que o olhar de cima não é uma afronta! Nós ficamos muito satisfeitos, e isso são restos do salazarismo, com a solidariedade que engana a fome. O que eu queria era justiça que matasse a fome! As pessoas têm direito, como homens, a ter um trabalho com um salário justo. Não um salário precário,um salário por favor ou um salário que equivalha à malga de sopa.
Isto significa que a coesão social e o crescimento económico estão a ser esquecidos pelo Governo?
A parte produtiva e social está a ser esquecida. Tudo isto vem, a meu ver, da inclemência, do medo e do pânico. Já com o último Governo chegou-se à conclusão de que não havia dinheiro. E, então, sob a pressão do medo, do perigo e da desonra nacional foi possível assinar um acordo [com a troika]. Mas a inclemência e o medo não lhes deu tempo, nem lucidez, para pensar que o que foi prometido ser pago em três anos devia ser pago em seis ou sete anos. Que a dívida deve ser paga, com certeza! Devemos dar o testemunho cívico de que somos honestos, retos e patriotas. Agora, fazer pedidos de dinheiro para ficarmos de joelhos diante da Europa... Neste momento, por muito que isto pareça radical, não sei se será possível mantermo-nos na
Europa. Aí é que eu tenho medo que haja tumultos e levantamentos. Porque isto da Alemanha e da França estarem a comandar os destinos do dinheiro, com buscas lucrativas que para mim têm sabor autêntico a agiotas, pode criar uma crise terrível.
A REVISTA PODE SER LIDA NA TOTALIDADE AQUI
 


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Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012

Senhor Presidente
Há muito muito tempo, nos dias depois que Abril floriu e a Europa se abriu de par em par, foi V.Exa por mandato popular encarregue de nos fazer fruir dessa Europa do Mercado Comum, clube dos ricos a que iludidos aderimos, fiados no dinheiro fácil do FEDER, do FEOGA, das ajudas de coesão e mais liberalidades que, pouco acostumados,  aceitámos de olhar reluzente, estranhando como fácil e rápido era passar de rincão estagnado e órfão do Império para a mesa dos poderosos que, qual varinha mágica, nos multiplicariam as estradas, aumentariam os direitos, facilitariam o crédito e conduziriam ao Olimpo até aí inatingível do mundo desenvolvido. Havia pequenos senãos, arrancar  vinhas, abater barcos, não empatar quem produzisse tomate em Itália ou conservas em Marrocos, coisa pouca e necessária por via da previdente PAC, mas, estando o cheque passado e com cobertura, de inauguração em inauguração, o país antes incrédulo, crescia, dava formação a jovens, animava a construção civil , os resorts de Punta Cana e os  veículos topo de gama do momento. Do alto do púlpito que fora do velho Botas, V.Exa passaria à História como o Modernizador, campeão do empreendedorismo, símbolo da devoção à causa pública, estóico servidor do povo a partir da marquise esconsa da casa da Rua do Possôlo. Era o aplicado aluno de Bruxelas, o exemplo a seguir no Mediterrâneo, o desbravador do progresso, com o mapa de estradas do ACP permanentemente desactualizado. O tecido empresarial crescia, com pés de barro e frágeis sapatas, mas que interessava, havia  pão e circo, CCB e Expo, pontes e viadutos, Fundo Social Europeu e tudo o que mais se quisesse imaginar, à sombra de  bafejados oásis  de leite e mel,  Continentes e Amoreiras, e mais catedrais escancaradas com um simples cartão Visa.
Ao fim de dez anos, um pouco mais que o Criador ao fim de sete, vendo a Obra pronta, V.Exa descansou, e retirou-se. Tentou Belém, mas ingrato, o povo condenou-o a anos no deserto, enquanto aprendizes prosseguiam a sanha fontista e inebriante erguida atrás dos cantos de sereia, apelando ao esbanjamento e luxúria.
No início do novo século, preocupantes sinais do Purgatório indicaram fragilidades na Obra, mas  jorrando fundos e verbas, coisa de temerários do Restelo  se lhe chamou. À porta estava o novo bezerro de ouro, o euro, a moeda dos fortes, e fortes agora com ela seguiríamos, poderosos, iguais. Do retiro tranquilo, à sombra da modesta reforma de servidor do Estado, livros e loas  emulando as virtudes do novo filão foram por V.Exa endossados , qual pitonisa dos futuros que cantam, sob o euro sem nódoa, moeda de fortes e milagreiro caminho para o glorioso domínio da Europa. Migalha a migalha, bitaite a bitaite, foi V.Exa pacientemente cozendo o seu novelo, até que, uma bela manhã de nevoeiro, do púlpito do CCB, filho da dilecta obra, anunciou aos atarantados povos estar de volta, pronto a servir. Não que as gentes o merecessem, mas o país reclamava seriedade, contenção, morgados do Algarve em vez de ostras socialistas. Seria o supremo trono agora, com os guisados da Maria e o apoio de esforçados amigos que, fruto de muito suor e trabalho, haviam vingado no exigente mundo dos negócios, em prol do progresso e do desenvolvimento do país.
Salivando o povo à passagem do Mestre, regressado dos mortos, sem escolhos o conduziram a Belém, onde petiscando umas pataniscas e bolo-rei sem fava, presidiria, qual reitor, às traquinices  dos pupilos, por veladas e paternais  palavras ameaçando reguadas ou castigos contra a parede. E não contentes, o repetiram segunda vez, e V. Exa, com pungente sacrifício lá continuou aquilíneo cônsul da república, perorando homilias nos dias da pátria e avisando ameaçador contra os perigos e tormentas que os irrequietos alunos não logravam conter. Que  preciso era voltar à terra e ao arado, à faina e à vindima, vaticinou V.Exa, coveiro das hortas e traineiras; que chegava de obras faraónicas, alertou, qual faraó de Boliqueime e campeão do betão;  que chegava de sacrifícios, estando uns ao leme, para logo aconselhar conformismo e paciência mal mudou o piloto.
Eremita das fragas, paroquial chefe de família, personagem de Camilo e Agustina, desprezando os políticos profissionais mas esquecendo que por junto é o profissional da política há mais anos no poder, preside hoje V.Exa ao país ingrato que, em vinte anos, qual bruxedo ou mau olhado, lhe destruiu a obra feita, como vil criatura que desperta do covil se virou contra o criador, hoje apenas pálida esfinge, arrastando-se entre a solidão de Belém e prosaicas cerimónias com bombeiros e ranchos.
Trinta anos, leva em cena a peça de V.Exa no palco da política, com grandes enchentes no início e grupos arregimentados e idosos na actualidade. Mas, chegando ao fim o terceiro acto, longe da epopeia em que o Bem vence o Mal e todos ficam felizes para sempre, tema V.Exa pelo juízo da História, que, caridosa, talvez em duas linhas de rodapé recorde um fugaz Aníbal, amante de bolo-rei e desconhecedor dos Lusíadas, que durante uns anos pairou como Midas multiplicador e hoje mais não é que um aflito Hamlet nas muralhas de Elsinore, transformado que foi o ouro do bezerro em serradura e  sobrevivendo pusilâmine como cinzento Chefe do estado a que isto chegou, não obstante a convicção, que acredito tenha, de ter feito o seu melhor.
Respeitoso e Suburbano,  devidamente autorizado pela Sacrossanta Troika

António Maria dos Santos
Sobrevivente (ainda) do Cataclismo de 2011



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 10:15 | link do post | comentar | partilhar | favorito

Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012

 

ok_cc3A chanceler alemã, Angela Merkel, deu hoje a Madeira como um mau exemplo da aplicação dos fundos estruturais europeus, sublinhando que naquela região autónoma estas verbas “serviram para construir túneis e autoestradas, mas não para aumentar a competitividade”.

Na opinião de Merkel, os referidos fundos devem servir para apoiar financeiramente as pequenas e médias empresas, por exemplo, como ficou decidido
no recente Conselho Europeu, em Bruxelas, e não mais para construir estradas, pontes e túneis, como sucedeu, na sua opinião, naquela região autónoma portuguesa.

“Quem já esteve na Madeira, deve ter ficado convencido que os fundos estruturais europeus foram bem aplicados na construção de muitos túneis e
autoestradas, mas isso não conduziu a que haja mais competitividade”, observou a chefe do governo alemão, numa palestra proferida perante alunos, na Bela Foundation, em Berlim, noticiada esta noite pela RTP.

 



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 11:04 | link do post | comentar | partilhar | favorito

 

Isto sim, é um país do calalho! Chama-se Poltugal.”

Imaginemos por um momento o ministro Álvaro. Sentado, a ler. Sobre o regaço, os poemas de Álvaro de Campos.
A sua atenção fixa-se, pensativamente, na estrofe final de um deles: “Ah, todo eu anseio / Por este momento sem importância nenhuma / Na minha vida, / Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos / Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma, / Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender / E havia luar e mar e solidão, ó Álvaro”. O Álvaro na sua solidão. E então… aconteceu. O momento. Aquele momento em que compreendeu “todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender”. Porque se deveu a uma graça divina. Apenas. Aquele Deus que, na sua obra “Diário de um Deus criacionista”, o mesmo Álvaro tanto houvera amargamente questionado pela demora preguiçosa em criar o mundo! E, bruscamente, com o efeito de uma revelação, um golpe de génio. Que haveria de mostrar a Portugal e ao resto do mundo o ministro Álvaro como o grande ministro da Economia! O momento traduzido num verso, para citar Manuel António Pina, um só verso que, no fundo, vale por uma epopeia inteira e que, na sua simplicidade, acabava por sintetizar seis meses extenuantes no domínio da acção governativa. Disse ele então que Portugal “tem falhado” no que se reporta às exportações de produtos nacionais, “tal como as natas”! O famoso “ovo de Colombo” miraculosamente transformado em pastel de nata.
Nessa altura, recorda Ricardo Araújo Pereira, “quando o ministro Álvaro apontou para o pastel de nata, os parvos olharam mesmo para o pastel de nata”. Mas os visionários viram neste gesto ministerial o zénite da aventura dos Descobrimentos, a concretização definitiva do mítico 5.º Império pressagiado pelo Bandarra, o famoso sapateiro de Trancoso, e por Fernando Pessoa. Era o novo Portugal, o Portugal do Álvaro, o Portugal do futuro, que se cumpria, concretizando o apelo pessoano – “Senhor, falta cumprir-se Portugal”. Tornava-se então mais que óbvio que “a aventura dos Descobrimentos teve como propósito principal (para não dizer exclusivo), o de ir à Índia buscar a canela que hoje faz falta para polvilhar os pastéis de nata”. Ricardo Araújo Pereira dixit. E eu não posso estar mais de acordo. Porque o visionarismo desta figura ministerial resolveria de uma penada a dívida contraída com o FMI e o BCE. Bastaria, repare-se na genialidade, colocar o mundo inteiro, “de Nova Iorque a Taipé e a Ouagadougou”, a empanturrar-se com pastéis. 78 mil milhões de pastéis de nata. Vendidos cada um ao preço competitivo de 1€, era dívida resolvida. Garantidamente. Mais ainda. O projecto deixaria de ser confinado ao pastel de nata para se integrar numa estratégia de desenvolvimento global. E aos pastéis, suceder-se-iam os coiratos em sandes, o pirolito de bolinha, o pingo directo, a bifana e o bacalhau feito em punheta. Só faltará mesmo ao Álvaro dispor hoje de um novo Camões, um super-Camões que verta em decassílabos heróicos esta épica “gesta da pastelaria” lusitana. E como contraponto político desta diáspora do pastel de nata de exportação, passámos a importar chineses. O que vai obrigar à flexibilização da própria língua portuguesa através de um acrescento ao Novo Acordo Ortográfico com as alterações necessárias à supressão das dificuldades que os chineses sempre demonstram na pronúncia do R. Reconhecidos ao comité central do PSD/CDS, logo apontaram como as pessoas mais competentes “para o conselho do supelvisão da EDP, o Catloga, o Blaga de Macedo, o Teixeila Pinto, a Celeste Caldona”. Entre outros. Exemplos do rigor moralista de Passos Coelho que, em campanha eleitoral e na sua voz de “balítono”, afirmava “sem colal de velgonha mentilosa” que, “a nossa preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou parentes, mas sim os mais competentes”. E se bem que não tenha compreendido a nomeação de Caldona, o “plesidente Catloga” já afirmou explicar tais nomeações pelo facto de os chineses entenderem tratar-se de “calas conhecidas”! Tendo mesmo acrescentado que está a levar a sua nomeação tão a sério no sentido de justificar os 40 mil euros que vai enfardar mensalmente, que já tinha aprendido a escrever e a desenhar um pintelho em mandarim.
Estava prestes a fechar esta crónica, quando ouvi Cavaco, o emplastro de Boliqueime, queixar-se que a reforma de mais de 10 mil euros mensais que recebe, não lhe chega para as despesas! Comoveu-me a indigência material deste homem, complemento da indigência mental que sempre lhe reconheci. Este “sem abrigo”, sonso e manhoso, ao invocar a sua qualidade de “poupadinho”, deveria lembrar-se das centenas de milhares de euros oferecidos em acções pelo amigo Oliveira e Costa do BPN. De facto, tem razão Clara Ferreira Alves quando escreve: “O grande banquete da pátria está a ser servido aos senhores feudais com lugar sentado. Algumas migalhas vão sobrar para os portugueses que não se importem de servir às mesas.”
Isto sim, é um país do calalho! Chama-se Poltugal.

 

Luís Manuel Cunha in Jornal de Barcelos de 28 de Janeiro de 2012.

 



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 10:43 | link do post | comentar | partilhar | favorito

Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012

 



António Nogueira Leite vai ser vice-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos e ganhar mais de 20 mil euros por mês.


O académico, que foi conselheiro de Pedro Passos Coelho (quem diria?), vai assumir funções executivas, ocupando o lugar de número dois do próximo presidente executivo do banco público.

Actualmente já é:

- administrador executivo da CUF,

- administrador executivo da SEC,

- administrador executivo da José de Mello Saúde,

- administrador executivo da EFACEC Capital,

- administrador executivo da Comitur Imobiliária,

- administrador (não executivo) da Reditus,

- administrador (não executivo) da  Brisa,

- administrador (não executivo) da Quimigal

- presidente do Conselho Geral da OPEX,

- membro do Conselho Nacional da CMVM,

- vice-presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment Bank,

- membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações,

- vogal da Direcção do IPRI.


É membro do Conselho Nacional do PSD desde 2010 (depois de ter sido governante pelo PS!?).


" este senhor merece o que ganha pois trabalha que se farta!!!"

 

==================

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.

(Mia Couto)

 

____________________________________________________


O mágico fez um gesto e desapareceu a fome, fez outro e desapareceu a injustiça, fez um terceiro e desapareceram as guerras.

O político fez um gesto e desapareceu o mágico.

WOODY ALLEN



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 15:39 | link do post | comentar | partilhar | favorito

 

ok_cc3O deputado socialista Paulo Pisco alertou, esta segunda-feira, para a existência na Suíça de redes de exploração de emigrantes portugueses, apelando à cooperação das autoridades dos dois países para combater um fenómeno que a crise económica agudizou.

“Há aqui [na Suíça] redes de portugueses que estão a explorar outros portugueses. São pessoas que fazem recrutamentos em Portugal e colocam os
portugueses a trabalhar aqui. Prometem casa e salário e, passado pouco tempo, rompem os contratos e ficam com o dinheiro”, disse Paulo Pisco.

O deputado socialista eleito pelo círculo da Europa falava à agência Lusa, por telefone, a partir da Suíça, onde se deslocou para contactos com a
comunidade.

“As pessoas acabam por ficar desamparadas e recorrem às organizações da Igreja para tentar algum apoio”, disse Paulo Pisco, adiantando que, apesar de a situação ser conhecida na comunidade, as vítimas recusam-se a denunciar os exploradores às autoridades por receio de represálias.

Paulo Pisco adiantou que, embora não seja nova, esta situação tem vindo a agudizar-se com a crise e considerou importante a cooperação das autoridades dos dois países nesta matéria.

“É um problema que se está a agudizar porque o afluxo de portugueses é maior nos últimos tempos”, disse.

 



publicado por Po(d/b)re da Sociedade às 08:36 | link do post | comentar | ver comentários (1) | partilhar | favorito

Este Blog é um espaço de apresentação/identificação dos podres/pobres da sociedade onde vivemos, onde a dignidade já há muito se perdeu e o estado civil se sobrepõe ao estado social. Não é um espaço reacionário mas sim... de indignação!!!
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